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O tempo parou

A velha desce as escadas lentamente. De cabelo arranjado, a mão treme. Vai cair. Um senhor vê. Ajuda-a. De óculos escuros, lenço ao pescoço. Vai vaidosa, passo certo. Tem cerca de 30 anos. Não mais. Apressada para o trabalho. Se saco na mão. Foi às compras. Leite com chocolate e bolachas para os filhos. Entretanto a velha já desceu as escadas. Parece não estar a sentir-se bem. O movimento. Os sorrisos falsos, as conversas interessantes. Os pássaros. O cheiro do café misturado com o teu perfume enjoativo. Três homens sentam-se no café. Olham em redor. Sentam-se. Lá vai a idosa. Já ninguém repara nela. Não dá nas vistas. Os óculos são velhos, tem uma haste partida. Leva na mão pão. Será que os pombos têm fome? A perna está atada com ligadura. Vieram servir os três homens. Cafés com cigarros. A língua passa pelos lábios para sentir o sabor do café. As pessoas esperam. Devem falar de politica ou de agricultura. Irão reclamar, pedir incentivos. O gado tem de comer. Espero que a velha ainda passe por mim, que me acene. O tempo aparou. As estátuas não se mexem. Uma mãe puxa a sua criança. Um idoso não faz nada. Que melancolia. A velha deve estar na agência funerária a comprar um Santo. Já não consegue ir ao Santuário e andar de joelhos ao lado do filho. Sabe que só os Santos a poderão salvar.
O tempo parou.
Por André Lopes