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A Outra Casa

Quando se olha para uma mesa da sala de estar e em cima dela se encontra apenas uma vela. Pode estar a brilhar, a sorrir. Sabemos que mais tarde ou mais cedo vai arder e desaparecer. Quando em cima de tapete se vê uma flor, caída, sozinha. Restos de papel de embrulho no chão. Quando um periquito canta, quando a sua cor reflecte pela janela. O gato em cima de um banco. Tanta velharia. Tanto pó. Um cheiro esquisito. Comida no fogão. Não está ninguém em casa.
No campo os miúdos jogam à macaca. Há um de pele diferente. É o mais feliz. De fato de treino cinzento, tem o cabelo curto. Os olhos grandes. As unhas impecavelmente limpas. Há um de etnia diferente. Também é o mais feliz. Dar um abraço. Um beijo. Um aconchego. Um sorriso. Fazer tudo e ser violentada. Uma bofetada, um murro, um pontapé. Uma clavícula partida. Um hematoma na cabeça. Nada pode falhar. Um vestido, um gancho no cabelo. Sapatos a brilharem. Com as meias até ao joelho. Está arranhada. Tem dificuldade em articular as mãos. Fala baixo e educadamente. Sabe estar e comportar-se.
Elas adoram estar no café. Com as nuvens negras. Está a chover lá fora. Vê-se uns guarda-chuvas pretos e azuis. A montra de bolos está pobre. A empregada tira um café. Tem cabelo curto. Parecido com o menino que é feliz. Os olhos pintados. Os dedos da mão seguram a bandeja.A quinta fica longe da vila. Uma entrada, dois portões enormes. Os cedros acompanham qualquer pessoa até ao átrio. Uma fonte seca. A erva que cresce fugazmente. Uma luva no chão. Não caberia na mão da senhora do café. É demasiado pequena. Há um jardim enorme. Videiras com uvas maduras. Cestas no chão. Uma foice. As pratas na sala. Brilham. Ninguém as limpa. Como na outra casa.
Produção Literária