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Margarida Rebbelo Pinto acessível a todos

Aquele que é considerado o melhor exemplo da literatura light em Portugal, Sei Lá, fez esta semana uma década que foi publicado. Margarida Rebelo Pinto assinala essa data discretamente mas a editora, a Oficina do Livro, não. Reedita o volume que abriu as portas à autora, três outros livros do início e anunciará que vai dar início ao seu blogue editorial e que, até ao fim do mês, os leitores que desejarem fazer o download do Sei Lá de forma gratuita o podem descarregar.Margarida Rebelo Pinto não gosta de definir esse seu primeiro livro como sendo literatura light e prefere denominar o género como pop, como o seu então co-editor Gonçalo Bulhosa o definiu. O rótulo light não se adapta, no seu entender, à produção que tem publicado porque possui outros níveis de leitura para além do que este comporta. Também não gosta de ser comparada à quantidade de autores portugueses que se apropriaram do seu estilo e, tentando-o copiar, deram início a carreiras que pouco duraram para além dos primeiros títulos. Aliás, considera-se bastante diferente desses autores que, como foi o caso de Maria João Lopo de Carvalho, na sua esteira lançaram sucessos imediatos. Houve outros mas, diz, já ninguém se lembra dessas "margaridinhas" que a copiaram, muitas mulheres e alguns homens como Tiago Rebelo e Francisco Salgado. E essas "margaridinhas" desapareceram porque, afirma, "há diferença entre escrever um livro e ser-se escritor de vários romances". Uma das acusações que lhe são feitas é a de que os seus livros não criaram novos leitores, mas Rebelo Pinto discorda frontalmente: "Posso reclamar ter levado novos leitores à literatura e ter levado a literatura a quem nunca tinha lido um romance." E, para que não fiquem dúvidas, acrescenta: "Tenho leitores pouco instruídos mas também os tenho com cursos superiores, e ambos começaram a ler mais após os meus livros."Uma década depois e quase um milhão de exemplares vendidos, Margarida Rebelo Pinto já perdeu a paciência para certa espécie de comentários à sua escrita. Para ela, citando António Lobo Antunes, "escrever é uma droga dura e cada novo livro é mais difícil de escrever que o anterior". Talvez por isso se confesse exausta e cansada de trabalhar sozinha em casa e pretenda diversificar um pouco a sua rotina ao querer dedicar-se ao documentário, sobre questões que a preocupam: o tráfico de mulheres e a desigualdade. "O isolamento mata e quando não se está a escrever é um período ingrato", confessa. O que não é o caso actual porque já está a escrever um novo livro. Quando se lhe pergunta sobre as melhores memórias desta década, para ela prodigiosa, demora a responder e quando o faz, recorda: "O encanto e a ingenuidade do primeiro sucesso." E agradece "a António Alçada Baptista, porque a incentivou a tornar-se escritora".
In Diário de Notícias do dia 12-03-2009