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Produção literária: "Nós a sorrir"

O cheiro da loja dos perfumes, a loja de roupa. Uma entrada grande, com um tapete de Arraiolos. Bem-vindo, anuncia o letreiro à porta. Gente a correr de um lado para o outro. Mendigos a pedirem dinheiro. A mão estendida, a tremer. Sorri e diz: Dê qualquer coisinha. Uma senhora cheia de sacos. Um vendedor de castanhas, outro de flores. Ao fundo há um jardim com bancos, árvores e relva. Alguns baloiços. Gente, gente, gente. Muita gente. Ainda está de dia, mas quando escurecer haverá luz suficiente. As pessoas atropelam-se. Uns tomam o lanche na esplanada, outras fumam cigarros, outros ainda comparam livros, recordações. Eu páro. Ponho-me a olhar. Nós nunca somos iguais, diz a música. O sol está muito forte. Os pombos no chão, vê-se algum milho espalhado. Passo pelo mendigo e vejo-o a comer uma carcaça. Esfomeado, nota-se. Uma criança faz birra. Quer um chocolate. O pai fala ao telemóvel. A mãe fala com um amigo. A criança tira imã moeda ao mendigo. A mãe vê. Obriga-o a devolver e como sinal de desculpa dá mais umas moedas. Na rua há um teatro. Um banco. Ao fundo junto aos jardins, o mar, as gaivotas. Algumas escavações. A electricidade por vezes falha. Uma máquina entra rua acima. Cuidado, cuidado, grita um trabalhador. Um quiosque. Alguns polícias de volta dele. Conversam. Um hospital por perto. Uma praça grande. O sol a bater nas casas. O eléctrico passará daqui a cinco minutos. É hora de regressar a casa. Os velhos conversam, ao fundo há um atelier de pintura. Dizem que a artista é conhecida. Espreito pela janela. As pessoas nunca são as mesmas. Nós nunca somos iguais. Anuncia a música.