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ESCRITA CRIATIVA

Ouço uma voz baixa, que fala uma língua estranha. Não entendo nada do que diz, mas pelo tom parece querer ajuda. Fala como se cantasse. Parece que por trás da sua voz soam violinos e harpas. Não, é um piano. Fala mais devagar. Acalmou-se. Mas mesmo assim não o entendo. Lá vem novamente a melodia que me diz que precisa de ajuda. Agora é só a parte do piano.
É muito parecido com o anterior. Tem o mesmo ritmo, a mesmo entoação. Há pessoas que não me são estranhas a falar atrás de mim. Mas não vou olhar porque sei quem são. Ontem o meu telemóvel tocou. Mas não atendi. Era apenas para marcar presença. Senti isso. Mesmo estando longe gosta de marcar presença. Com o verão não gosto de sair. Prefiro antes estar na minha varanda com um chapéu de sol. Deitado numa espreguiçadeira, a ouvir esta música. Mas desta vez o homem já não canta.
O sol não me bate no corpo. Mas consigo perceber que está muito quente porque o gato está no meu colo. Lá vem de novo uma voz. Penso que seja diferente. Não é a mesma que dizia palavras estranhas. Consigo perceber alguma coisa. Vêm-me as lágrimas aos olhos. Tanta gente a aplaudir de pé. Até ele está emocionado. Pede um café e cala-se. Ouve-se um violino e uma bateria. Combina qualquer coisa para esta noite. Diz para vir de forma natural. Pede outro café. Mas não é para mim. Diz-me que não sabe. Que pensa estar a sonhar.
Segreda-me ao ouvido:
café.
De novo:
café
café.
Café.
André Lopes