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Escrita criativa - "Açúcar para a vida"


Corro para longe. Saio de casa à pressa. sem reparar se fecho a porta. Tenho a chave na mão. O mesmo porta-chaves que a minha mãe me deu. A idade traz consigo estas coisas. Sempre que olho para ele vejo que me sorri. O porta-chaves. Meto-o dentro do bolso. Por momentos esqueço-me dele. Faço-me despercebido. Passo por ruas estreitas. Por cães. Idosas. Mais do que eu. Falo para a Clementina. Ando desesperadamente. Sem saber por onde andar. Sem rumo. À procura de algo ou alguém. Ando a ler um livro. De um escritor antigo como eu. É estrangeiro, mas prefiro os Portugueses. Dizem que há gente boa, que escreve bem. Vou ao café que costumo frequentar. Há gente sentada na rua. Na esplanada. Está tanto frio que decido entrar para ver o ambiente. O café está vazio. Estão chávenas em cima da mesa. Cinzeiros com cigarros e beatas. Há copos ainda com cerveja. Restos de pessoas que se foram embora para os seus empregos. Que reclamaram o preço do café, que pediram adoçante em vez de açúcar, que disseram olá e adeus. Que foram embora. Que partiram. A senhora do café pergunta o que quero beber. Tem um vestido bonito. Mas já não tenho idade para olhar para estas coisas. Bebo um chá preto. Saiu a correr e deixo a porta aberta. Está um ambiente pesado no café. Ando desesperadamente. Sem saber para onde vou. Vou para o emprego?


André Lopes