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Escrita Criativa - "As mulheres"

Suspiro por ela. Aquela mulher que não me chama, não me clama, nem me ouve. Aguento por ela. Olho por ela e rezo por ela. Passa por mim devagar, de mansinho, para que não se fizesse notar. Hoje nem senti o aroma do seu perfume, nem o barulho dos saltos na calçada. De lábios bem vermelhos. Tem cabelo preto. Na mercearia escolhe as melhores laranjas, vai ao vinho e ao pão. Para pagar tira da mala uma carteira elegantíssima, cheia de cartões. Vejo muitas fotografias. Deve ser o filho, a irmã e o mãe. penso. Costuma demorar a arranjar-se para sair de casa sempre bem. Tem um emprego estável, mas não é feliz. Quase sempre sorri, mas nunca ri. Uma vez por mês vai ao cabeleireiro para ajeitar o grande cabelo que tem. Fuma. Senta-se no café e fuma. Fuma muito. Diz que é o único vicio que tem. Ao pé dele vai sentar-se uma outra mulher. Deve ter perto de 40 anos. A outra não, é bem mais nova. Falam as duas, trocam papéis e olharem. A quarentona acena com as mãos para alguém que passa aponta na sua direcção. Na mesa ao lado as pessoas que estão sentadas reparam na elegância destas mulheres, como a vida lhes corre de feição. Como sorriem. Não não. Elas nunca riem. Ninguém as conhece e tudo o que possam dizer a seu respeito é mentira. porque elas nunca riem.