As conversas habituais no jardim da cidade. Os cães a ladrarem num barulho ensurdecedor, que fazia estremecer o chão, a erva e as flores que nos rodeavam. Nesta tarde de sol, neste banco de jardim verde já gasto pelo tempo que teima em passar. As crianças correm para assustar os pássaros, algumas vão de mãos dadas. Ao fundo consigo ver um rapaz a ler um livro. As nossas conversas sobre os serões passados à lareira. As noites em que a tua mãe te chamava a atenção pelo que fazias, pelo chocolate que comias desalmadamente.
O barulho da lenha a arder, por vezes. Por vezes não. Sempre. Porque a lenha arde sempre, sem parar ininterruptamente, destruindo e aquecendo os que de volta dela estão. As conversas onde falávamos dos outros, da maneira egoísta como me tratas e desprezas. As panelas na cozido e o cheiro da comida que vem de lá. Estou enjoado, não consigo respirar. Quero escrever, escrever para fugir de ti, das nossas conversas habituais no jardim e à lareira. Qualquer dia proponho-te que levemos a lareira até ao jardim, para nos aquecermos. Esquecemos o sol por um dia e olhamos para as cinzas que vão caindo.
Trazes a renda para fazer enquanto eu vejo as crianças a brincar. Não sei a minha idade e por isso não quero brincar, prefiro ficar a vê-las afastando-se assim que viram que as estava a mirar. Malditas criaturas. Logo agora que me estava a divertir foram-se embora. O melhor é pegar na lareira e nas nossas conversas e ir para casa. Podes vir comigo, fazemos companhia um ao outro. Assim nunca estamos sós.
André Lopes
O barulho da lenha a arder, por vezes. Por vezes não. Sempre. Porque a lenha arde sempre, sem parar ininterruptamente, destruindo e aquecendo os que de volta dela estão. As conversas onde falávamos dos outros, da maneira egoísta como me tratas e desprezas. As panelas na cozido e o cheiro da comida que vem de lá. Estou enjoado, não consigo respirar. Quero escrever, escrever para fugir de ti, das nossas conversas habituais no jardim e à lareira. Qualquer dia proponho-te que levemos a lareira até ao jardim, para nos aquecermos. Esquecemos o sol por um dia e olhamos para as cinzas que vão caindo.
Trazes a renda para fazer enquanto eu vejo as crianças a brincar. Não sei a minha idade e por isso não quero brincar, prefiro ficar a vê-las afastando-se assim que viram que as estava a mirar. Malditas criaturas. Logo agora que me estava a divertir foram-se embora. O melhor é pegar na lareira e nas nossas conversas e ir para casa. Podes vir comigo, fazemos companhia um ao outro. Assim nunca estamos sós.
André Lopes