PUB

PUB

"Eu oiço, vejo, sinto" - Escrita Criativa

Eu até pensava que ela morava da parte debaixo da casa, mas ela disse-me que não, porque não pode fazer obras na casa....No outro dia deu-lhe um desmaio, coitada. Agora foi a nora. Ai, a nora também? O casal tem três filhos, é essa que está casada com o drogado. Conversas cruzadas- penso.

Sentado onde estou sinto o vento a passar-me pela cara, as árvores mexem mas não há folhas a cair. Apenas mexem. Numa mesa estão cinco jovens. Um baralha as cartas que irão jogar a seguir, outro bebe café e os outros não sei. Não estou com muita atenção.

As senhoras das conversas cruzadas devem estar para morrer, mas não podem deixar de sair à rua, de se aprumarem, arranjarem o cabelo e as unhas. Falam de ir para a piscina com os netos, de ir adomece-los com histórias de encantar, de os verem com um sorriso nos lábios. Esperam fazer isto antes de morrer. Não deve faltar muito.

Riu-me sozinho das conversas dos outros. Tanto que eu gosto de as ouvir, de sentir que a vida dos outros é tão triste e melancólica.

As árvores já não abanam, o vento já parou. As velhas vão morrer e eu vou-me embora. Adeus.