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À noite no Museu - reportagem

À entrada os archotes guiavam-nos até à Igreja D. Lopo de Almeida, no topo do Castelo de Abrantes. O frio que se fazia sentir impedia que a chama encadeasse devidamente o local escuro e sombrio. À nossa espera estava a coordenadora geral do Museu, Isilda Jana, que se encontrava à conversa com alguns dos que tiveram o interesse e a curiosidade em participar na visita guiada à exposição da antevisão II do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes (MIAA). Alguém falava sobre o atraso dos portugueses neste tipo de eventos, que nos últimos anos tinha sido reduzido de meia hora para 15 minutos. Conversa de circunstância. Mas a visita não começou com tanto tempo de atraso. Isilda Jana principiou o discurso referindo que o MIAA será concebido no antigo Convento de S. Domingos e na zona envolvente, através de uma parceria entre a Câmara Municipal de Abrantes e a Fundação Ernesto Lourenço Estrada. Numa primeira fase foi explicado como se dividia a exposição, os objectivos da criação do museu, a sua construção e uma breve história do Convento de S. Domingos.

De um lado da Igreja duas esculturas de grande porte saltam à vista dos cerca de 30 participantes. Em frente destas, do lado oposto, três bustos, um do Imperador Marco Auréleo e dois do Imperador Augusto, ambos correspondentes ao período Neoclássico do final do século XVIII. 

Há pessoas que suspiram, outras que deambulam pela exposição a absorver pormenores de objectos expostos, sem notarem que a coordenadora está a falar, mas a maioria ouve atentamente as suas explicações. São poucas as perguntas que fazem, as dúvidas que colocam. Preferem ver as peças de perto e tirar as suas próprias conclusões.

Do Oriente Antigo (Islão e China) passamos para um grande vitral com cerâmica vidrada, vidros romanos e uma parte significativa de joalharia da época do Helénico, Romana, Orientalizante e Paleo-Cristão. Subimos uma escada estreita e em forma de espiral que dá acesso ao coro da Igreja. Desta vez somos confrontados com arte barroca e contemporânea personalizados na pintura. Maria Lucília Moita, nascida em Alcanena, é a anfitriã nesta última parte da exposição. Vários quadros a carvão, realizados ainda em pleno século XXI, convivem com quadros mais antigos, onde predominava uma visão mais subjectiva e lírica. A pintora e escritora esteve presente nesta visita guiada e foi explicado pela própria a evolução do seu trabalho. Terminava desta forma a visita guiada à exposição. Fica a curiosidade e o desejo de ver mais.


Os participantes dispersam-se pela Igreja. Conversam, despedem-se e saem. Por esta altura já o vento apagou a chama dos archotes. O caminho continua escuro e sombrio.
Texto e fotos de André Lopes

Legenda das fotografias:
1ª - Plano geral dos participantes
2ª - Isilda Jana, coordenadora no Museu
3ª - Vitral com armamento da idade do ferro
4ª - Participante observa quadro Barroco
5ª - Pintora Maria Lucília Moita à conversa