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"Habitante de Cem Soldos por um dia" - Reportagem Festival Bons Sons

Nunca a aldeia foi tão vivida como este ano. E o que é viver a aldeia? É entrar no Festival Bons Sons, estar em contacto com gentes de todas as idades, conviver com moradores, alguns com idade avançada e que não se inibem de vir para a rua ver o que acontece. E o que acontece em Cem Soldos é mais do que música. Por estes dias a aldeia, os moradores e as suas casas fazem parte do festival, parte importante e integrante que acolhe os visitantes, os convida a entrar e jantar. As portas e janelas abrem-se, tudo é transparente, não há nada a esconder. Há um cão a ladrar. Segundo o se dono o cão ladra por nunca ter visto a aldeia com tanta gente. No Posto de Turismo são muitas as pessoas que compram t-shirts, porta-chaves e pins do festival. Querem levar uma recordação, umas prendas para os que não puderam vir. Há dois anos (este festival é bienal) os Deolinda e os O´questrada foram os músicos que mais se destacaram. Na altura havia apenas lugar para um palco, a entrada era gratuita, o artesanato que existia no recinto era pouco. Mas uma coisa continua igual a 2008- milhares de pessoas passaram pelo festival Bons Sons, na aldeia de Cem Soldos, a poucos minutos de Tomar, entre os dias 20, 21 e 22 de Agosto.

Nas bilheteiras ouve-se alguém da organização dizer que o concerto de Lula Pena está atrasado porque há muita gente para entrar. Interrogo-me - entrar no festival ou no concerto? Já passava da hora de início do concerto de Lula Pena quando entrámos na aldeia, nos limites do festival. O aspecto limpo de Cem Soldos não fazia acreditar que na noite anterior uma longa noite tinha por ali passado, com os concertos de Principezinho, Dead Como, Diabo a Sete e Melech Mechaya. Ao aproximar da Igreja uma grande mancha de pessoas encontrava-se da parte de fora, na escadaria, à espera de poder entrar e assistir aos concertos que teriam lugar na Igreja - além de Lula Pena também lá actuaria Norberto Lobo.  Um lugar fechado e pequeno não teria sido boa ideia para acolher estes dois concertos. Muitas caras de desilução e muitos desabafos de quem veio de propósito para ver a cantora portuguesa. Um rapaz da organização ia mandando calar as pessoas que conversavam. Cá fora não se ouvia nem uma nota de música. Apenas conversas soltas e alguns pássaros.

 Depois de algum tempo de espera, rumo a outro palco, onde vai actuar B Fachada. Parto com um vazio pelos dois concertos que não pude ver. A aldeia enche-se cada vez mais à medida que as horas passam. B Fachada deu um concerto para um largo repleto de pessoas que o aplaudiam e trauteavam as suas músicas. "São muito generosos" agradecia o cantautor que dentro de duas duas horas estaria de volta ao palco para mais um concerto, desta feita com um projecto recente em Portugal - Diabo na Cruz. Pausa para jantar.

Mais um atraso e volto a encontrar o largo completamente lotado. Ainda faltava meia hora para darem início ao concerto os Diabo na Cruz. B Fachada, Jorge Cruz e Bernardo Barata levaram a Cem Soldos uma onda de euforia e boa disposção. O terraço de um café serve de lugar para dezenas de pessoas terem uma vista privilegiada sobre a aldeia e o concerto. Uma hora e meia de canções de fusão tradicional portuguesa conjugadas com rock levam ao extase o público que canta, dança e eleva os braços ao som das músicas.

Mais dois concertos num palco diferente. A multidão que se encontrava neste largo corre apressadamente para o outro palco. Maior, com mais iluminação e onde cabe mais gente. Mas também onde se encontra concentrada toda a "população provisória" desta aldeia. Dazkarieh e Terrakota são os grupos que se seguem. A noite termina com Dj. Ou melhor, a noite não terminará para muitos porque irão passar a noite me branco, embriagados não só pelo álcool mas também pela emoção de um festival que tenderá a crescer a todos os níveis, cada vez mais. Este ano isso já se notou. Quantidade pode não significar qualidade, mas neste caso isso está mais do que provado. O festival tem alguns pontos a melhorar, mas outros tantos em que evoluiu para melhor. Coimbra, Braga, Porto, Lisboa e Faro foram alguns dos locais que marcaram presença em Cem Soldos através das suas gentes. Por um dia fui habitante da aldeia e estou grato pela amabilidade e arte de bem receber característicos do povo de Cem Soldos.


Reportagem do Festival Bons Sons no dia 21 de Agosto.
Texto e fotos de André Lopes