Através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental,
realizado em 2010, veio a saber-se que Portugal estava entre os países da
Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população.
Neste estudo era referido que quase
metade (43%) já teve uma perturbação mental durante a vida e que 23% dos
portugueses tiveram uma doença mental nos 12 meses anteriores ao estudo. Nesta
altura o país estava deprimido. Actualmente, julgo, estará ainda mais.
Uma em cada cinco pessoas
sofre de perturbações psiquiátricas, desde depressão, ansiedade, pânico, entre
outras. Estas perturbações afectam mais as mulheres, os jovens e as pessoas
sós. Por isso é necessário que as pessoas com doenças mentais percebam que não
estão bem e que necessitam de tratamento, de acompanhamento.
O que causa maior impressão é saber que grande
parte das pessoas com este tipo de perturbação não está a ser acompanhada por
um especialista. Há um preconceito em relação a quem frequenta psicólogos ou
psiquiatras. A nossa mentalidade tem de começar a mudar. Quem não sofre ou
nunca sofreu qualquer tipo de perturbação mental não só não entende o outro
como ainda o despreza e é alvo de chacota.
Uma pessoa com ansiedade,
com uma determinada fobia é olhada de lado, como alguém desequilibrado, sem
valores, um fraco que ao menor obstáculo desiste...
No consultório os
doentes trocam olhares entre si e baixam a cabeça com vergonha. Na farmácia,
quando se vai buscar o ansiolítico e o antidepressivo, perguntam: “então mas a mulher
anda sempre deprimida? Tem tudo para ser feliz…”. Como se estas coisas da mente
fossem simples de explicar.
O que a percentagem do estudo
acima citado vem demonstrar é que os portugueses são um povo retrógrado nestas
questões. Não é vergonha querer estar bem, querer tratar da saúde de cada um. É
vergonhoso, isso sim, estar doente e não ir ao médico com medo de ser olhado de
lado. E este estudo deixa claro esse flagelo: 33,6% de perturbações graves não
tiveram qualquer tipo de tratamento. Não se sabe a razão. Falta de dinheiro?
Falta de acompanhamento por parte de um profissional? Isolamento?
Portugal além de estar
entre os países da Europa com maior consumo de antidepressivos, agora também é
líder em doenças mentais, aproximando-se dos EUA. Como se estes países fossem
comparáveis!
Os políticos, em geral,
dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a
sociedade é feita de pessoas, de casos reais. Entretanto construíram um
mecanismo que vai triturando as mentes sãs de um povo, criando condições
sociais que favorecem uma decadência psicológica colectiva, multiplicando,
deste modo, as doenças mentais.
Uma pessoa com o
estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que não funciona
não quer saber de antidepressivos e ansiolíticos, preocupa-se com outras
questões mais prementes.
O sociólogo e
investigador Garrucho Martins refere que a zona entre Chamusca e Benavente tem
taxas elevadas de suicídio devido a uma pressão social, onde “toda a gente sabe
a vida de toda a gente, onde todos se conhecem e a vergonha perante situações de
desemprego ou dificuldades económicas potencia o suicídio”. Nos últimos tempos
as notícias na região confirmam esta tendência.
André Lopes