Actualmente toda a
gente tem motivo para fazer greve. Seja porque perdeu o emprego, ou viu o
salário ser reduzido, seja porque perdeu regalias ou não está satisfeito no seu
trabalho. A greve geral, convocada pela CGTP no dia 14 de Novembro último,
serviu de alerta para a degradação da qualidade de vidas dos portugueses, que
tende a piorar cada dia mais.
Contudo, apesar da sua
força organizativa, a CGTP não conseguiu enquadrar os manifestantes que
iniciaram um violento protesto em S. Bento e, depois de o líder da CGTP
abandonar o local, alguns manifestantes encapuzados, outros mesmo de cara
destapada, começaram a arremessar vários objectos contra a polícia. Durante
quase duas horas os “profissionais da desordem”, atiraram pedras, garrafas e
petardos contra a barreira policial que protegia o Parlamento. Depois de tanto
tempo a serem apedrejados, a polícia fez um aviso: “retirem-se da praça que
vamos carregar”. E carregaram mesmo, batendo em tudo o que apanhavam. Inocentes
e culpados, velhos e novos, homens e mulheres.
Mas as coisas não têm
de ser assim. As pessoas têm o direito a manifestarem-se e a polícia tem o
dever de proteger a ordem pública. E estes dois lados da democracia têm de ser
incompatíveis? É óbvio que a solução passa por exercer o direito à manifestação
respeitado a ordem pública. Isto seria a perfeição numa democracia.
Quando quer evitar a
violência, a polícia devia saber como actuar: isolando os provocadores e
garantindo o direito à manifestação pacífica, mas desta forma os media não
tinham notícias para dar a não ser a greve geral.
Segundo a CGTP, a greve
de Novembro foi das maiores que aconteceu no nosso país, mas com os desacatos
em S. Bento, os holofotes viraram-se para a violência, e a greve acabou por
passar despercebida. A comunicação social falava de “apedrejamentos contínuos
da polícia”, “provocação à polícia”, “intifada”, e o ministro Miguel Macedo,
como seria de esperar, elogiou o trabalho desta força de segurança, separando
os “profissionais da desordem”, da manifestação da CGTP.
Repudio a violência,
ela impõe-se pela sua irracionalidade e pelo seu poder mediático. E o que se
passou depois da manifestação da CGTP serviu de desculpa para o Governo
reprimir a contestação e para que quem estava a manifestar-se de forma pacífica
fosse metido no mesmo saco, perdendo a razão. Manifestar, sim. Partir tudo à
nossa volta, não olhando a nada nem a quem, isso é “brincar com coisas sérias”.
André Lopes