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Entrevista aos ALF, banda de originais, que lançaram em Setembro o disco "Animais Lambendo Feridas"

"As bandas de originais têm de trabalhar muito mais"


Os ALF lançaram em Setembro "Animais Lambendo Feridas", um disco de originais que querem mostrar a um maior número de pessoas possível. A formação da banda começou por ter dois membros, os irmãos João e Pedro Morgado, de Penhascoso, Mação, mas depressa passaram a quatro, juntando-se André Bispo, de Abrantes e Bernardo Vasconcelos, de Mação. Os concertos de apresentação do novo disco estão agendados para novembro, dia 15 no Incrível Almadense, dia 22 em Vila Franca de Xira e 30 de novembro em Cascais.

Lançaram em Setembro um disco de originais. Que disco é este?

João Morgado: O "Animais Lambendo Feridas" é um disco que tem a sigla ALF por trás, que foi baseado mais em sentimentos de dor, de perda, enquanto o disco anterior, o "Amor Lança Farpas", era mais de euforia e amor. Este é um disco de sete temas todos cantados em Português, onde aprofundámos os sentimentos. É um trabalho coeso e que segue uma linha coerente, as músicas estão interligadas. O disco foi gravado em Lisboa, nos Nirvana Studios, onde temos uma Box. O "Revolver" foi o primeiro tema a ser gravado. Gostámos do estúdio e gravámos o disco todo. Não tivemos apoio para fazer este disco, foi todo com dinheiro que tínhamos angariado nos concertos.

O cantar em Português é uma bandeira dos ALF?

 
J. M.: Sim, sempre cantámos na nossa língua. Quando começámos com a banda eramos dois, mas era limitativo termos um grupo com guitarra, bateria e theremim, e depois, em 2008, entraram o André Bispo e o Bernardo Vasconcelos.


Os ALF começaram por ser 2 e actualmente são 4. Como é que o Bernardo e o André se juntaram à banda?

J. M.: Antes dos ALF, tive uma banda de covers onde era o vocalista, mais por ser um dos que sabia falar Inglês do que por ter a voz mais bonita. Mas quando essa banda terminou, fiquei com o material em casa e começámos a tocar, eu na guitarra e o Pedro na bateria. Começámos a brincar e a partir dai, tocávamos como descarga. Há pessoas que fazem desporto, eu gosto de música e senti que precisava de descarregar as coisas na música. Naturalmente fomos criando música e começámos a fazer concertos.

Pedro Morgado: O nosso primeiro concerto foi engraçado. Tivemos de criar um festival para podermos ir tocar. Ainda ninguém tinha ouvido falar dos ALF. Já na altura da banda, eu e o Bernardo Vasconcelos tínhamos uma banda de covers e, apesar de o André Bispo ser de Abrantes, foi no Festival Paredes de Coura que o convidámos para vir ensaiar connosco… O Bernardo foi o primeiro a tocar com os ALF nas Festas de Sardoal. Foi um processo natural.

Como surge o processo de criação de músicas?

Bernardo Vasconcelos: De uma maneira geral, primeiro surge a estrutura da música e, posteriormente, o João adapta uma letra escrita por ele. A maioria dos temas nasce na sala de ensaios, quando estamos os quatro reunidos. O processo de gravação do mais recente disco foi diferente do anterior porque, quando fomos para o estúdio, os temas foram todos gravados a quatro, ao contrário de "Amor Lança Farpas", que eramos só dois.


Como é que caracterizam o vosso som? Do EP (Extended Play) para este novo disco há uma evolução...

B. V.: Este "Animais Lambendo Feridas" está mais próximo daquilo que tocamos ao vivo. Ao ouvirmos as músicas mais antigas, achámos que as mais novas são mais reais. Quando partimos para a gravação do EP, não sabíamos o que era fazer trabalho de estúdio, e este álbum foi mais pensado, os temas iam mais trabalhados e a experiência foi melhor. As músicas do álbum já tinham sido tocadas ao vivo. Aliás, quase todos os temas são tocados ao vivo antes de serem gravados. É uma maneira de saber a opinião do público, perceber se a música funciona bem e se é bem recebida.

O nome ALF significa mil e uma coisas. "Amor Lança Farpas", "Animais Lambendo Feridas", "Amanhã Levo Flores"…

J. M.: Tem tido uma história ao longo do tempo, existe uma sequência. "Amanhã levo Flores" foi gravado no Sardoal, depois foi a vez de "Amor Lança Farpas", com quatro temas mais trabalhados, e agora o "Animais Lambendo Feridas", que é a tragédia depois do amor. A partir daqui não sabemos o que vai acontecer. Esperamos que o álbum que vier a seguir seja melhor, pois a banda funciona como um método de aprendizagem.

O João foi um dos fundadores do Movimento Alternativo Rock (MAR). Que projecto é este e como surgiu?

J.M.: O MAR começou por ser uma associação de bandas e depois passou a editora. Utilizamos o cantar em Português como o que une as bandas que fazem parte deste movimento, independentemente do género musical. Inicialmente, a ideia era ter bandas de todo o país, mas actualmente a concentração de grupos está na região de Lisboa. O MAR tem funcionado como meio de promoção de bandas. Este movimento surgiu numa altura em que um grupo tinha agendado um concerto e soube no dia anterior que o bar tinha cancelado o concerto. Então, houve algumas bandas que se juntaram para criarem iniciativas próprias.

B. V.: Aquilo que é uma grande mais valia do MAR é o vídeo, sempre que tocamos ao vivo temos uma estrutura a filmar o nosso concerto. A qualidade é óptima, profissional.

J.M.: Há pouco tempo estivemos no programa Zona J, da Antena 3, e o MAR esteve a fazer-nos o vídeo. O MAR consegue levar toda a estrutura, o que nos permite tocar como se fosse um concerto. Para a promoção no nosso disco utilizamos a estrutura do MAR.

Todos têm a música como passatempo. O que fazem para lá da banda?

J. M.: Gosto muito do Carlos Paredes e ele sempre trabalhou nas Finanças. Era um guitarrista que toda a gente adorava. Tanto dava um concerto para 5 mil pessoas como para o porteiro, tinha a liberdade que queria ter na música. E eu gosto dessa liberdade. Não tenho necessidade de alterar as minhas músicas para agradar a mais pessoas. Para lá da música, sou comercial, ando a percorrer o país de carro e ouço muita rádio, o que me ajuda a saber as novidades musicais. Os outros três membros são futuros Engenheiros Eletrotécnicos, estão a estudar em Lisboa.

Fizeram parte do cd dos 30 anos da rádio Antena Livre (2011) com outras bandas da região. Desde aí o panorama musical regional mudou ou mantém-se constante?


J. M.: Tenho estado cada vez mais em Lisboa, e o que tenho seguido é através da internet, mas sei que têm surgido novas bandas com qualidade, o que não é há são estruturas para ter essas bandas ao vivo.

P. M.: Existem iniciativas, mas não há nenhum espaço fixo que receba bandas de originais. O problema não é apenas aqui na região, em Lisboa também existem lacunas de infraestruturas.

J. M.: As bandas de originais têm de trabalhar muito mais. As pessoas têm de estar predispostas a ouvir música que não conhecem.

B. V.: Para uma banda de originais tocar na região tem de ser num festival onde vão outras bandas de originais. Só assim conseguem tocar.

P. M.: Apesar de a banda já ter uns bons anos, é pouco falada por cá. Em Lisboa acabamos por ter mais público do que cá.

J. M.: Não sei se é bem assim. Há tanta coisa boa a ser feita na música, que somos mais um grupo... temos as nossas vivências e queremos transmiti-las às pessoas.

Facebook dos ALF: www.facebook.com/osalf