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Reportagem - Bons Sons recebeu 38 mil pessoas em quatro dias de festival

O Festival para todos - Bons Sons no dia do arranque

Entrámos na aldeia ainda com o sol a arder e por Cem Soldos já tinham passado cinco bandas. A festa começou cedo, demasiadamente cedo para quem quer ver tudo o que acontece no festival Bons Sons - das 14 horas até depois das 3 da manhã há um cem número de concertos, sessões de cinema, animação de rua, exposições, artesanato... É assim Cem Soldos, no concelho de Tomar, quando recebe, de dois em dois anos, o festival Bons Sons - este ano o festival decorreu de 14 a 17 de Agosto. O perímetro da aldeia é fechado e para se entrar no turbilhão de música portuguesa existem apenas quatro entradas oficiais - da Calçada, das Hortas, da Igreja e da Escola. Escolhemos a Entrada das Hortas, depois de serpentearmos as ruas íngremes. É o primeiro dia do Bons Sons e a aldeia está a ficar inundada de gente. As bilheteiras têm longas filas de festivaleiros. Na rua circulam pessoas ao lado de carros. Já no centro da aldeia, no Largo do Rossio, ouve-se dizer que "este é um festival para todos". Mais tarde, iremos perceber o porquê desta afirmação.

Passamos pela Igreja e vamos até ao palco Eira onde já actua a Cachupa Psicadélica. Antes, no palco Giacometti, tinha tocado Peixe, membro fundador de Ornatos Violeta, que lançou a solo o disco "Apneia". Um dos nomes mais esperados para o primeiro dia do festival é JP Simões, que muito tempo antes do concerto já o havíamos encontrado a circular pela aldeia.  Bem disposto e com sentido de humor, o cantor subiu ao palco apenas com a sua guitarra mas não se intimidou perante as centenas de pessoas que o enfrentavam no público. Entre umas conversas mais prolongadas para poder fumar um cigarro, JP Simões revisitou temas emblemáticos da sua carreira e pôs o público a cantar em uníssono.

Pela primeira vez, a edição deste ano do festival recebeu a Noite Prémios Megafone com a presença das três bandas finalistas: Charanga, Omiri e Nó D´Alma. Os concertos tiveram lugar no palco Lopes Graça/Aguardela, onde foi anunciado o vencedor da edição de 2014. Depois da música d´Os Capitães da Areia em frente da Igreja da aldeia - o espaço tornou-se pequeno para tanta gente -, os Charanga subiram ao palco como vencedores da segunda edição dos prémios Megafone. Os Galandum Galundaina, vencedores da edição de 2010 cantaram logo depois, no mesmo palco.


Gisela João, uma fadista "fixe" no segundo dia do festival Bons Sons

Por estes dias a aldeia, os moradores e as suas casas fazem parte do festival, parte importante e integrante que acolhe os visitantes, os convida a entrar e a partilhar. Por estes dias todos saem à rua. Até mesmo os cantores e músicos convivem com os festivaleiros, misturam-se no meio da multidão. Muitos passam despercebidos. É sexta-feira. O dia anterior terminou já tarde com os DJ Megafone: Ricardo Alexandre e Luís Varatojo, mas isso não é motivo para haver atrasos no dia 15. O festival continua e a ressaca tem de ficar no dia anterior.

Os concertos começam às 14 horas entre o Auditório e o palco Música Portuguesa a Gostar Dela Própria. Com as horas a avançar, sentimos uma maior enchente no segundo dia do festival. Foi mais difícil de estacionar o carro e é visível uma maior quantidade de pessoas pela aldeia. As bilheteiras, essas, vão tendo cada vez filas mais pequenas, uma vez que a grande maioria dos festivaleiros comprou passe para os quatro dias. No palco Lopes Graça já estão os Nobody´s Bizness, com 10 anos de estrada, cantando Blues dançantes. Long Way To Alaska escaparam ao turbilhão do festival porque um dos elementos da banda estava doente e o concerto foi cancelado, o que fez com que o concerto da Gisela João fosse mudado para o palco Eira, mais amplo e com melhores condições sonoras.

O público aproveitou a pausa para abastecer o estômago, mas depressa o recinto encheu. Gisela João subiu ao palco com um vestido branco, a condizer com o seu sorriso. "É fixe estar no Bons Sons, ver tanta gente nova e bonita a assistir a um concerto de fado", referiu a fadista, que repetiu "fixe" nas várias intervenções que fez, levando a plateia a gritar "és fixe, Gisela". “Lá na minha aldeia, não se vira o vira a bater o pé”, fado de Margarida Guerreiro, serviu de improviso quando uma corda da guitarra de Ricardo Parreira se partiu, mas durante uma hora Gisela João interpretaria "Meu amigo está longe", fado single do seu primeiro disco, "Voltaste", da Beatriz da Conceição, entre tantos outros conhecidos do público. Gisela é uma fadista da nova geração, com um visual e uma postura em palco de menina madura, mas com uma voz que enche a alma de quem a ouve. Nem foi preciso a fadista sair do palco para o público pedir mais uma música. E a fadista acedeu prontamente.















Do fado passamos para o indie-folk-rock dos Brass Wire Osquestra. O Largo do Rossio está cheio. Uns assistem ao concerto, outros aproveitam para repor energias, seja descansando ou alimentando-se. Para ver ainda há os concertos de Samuel Úria, Capicua, Gaiteiros de Lisboa e Moullinex. As noites em Cem Soldos são frias - "pronto, já está a ficar frio e a levantar-se o vento", ouve-se alguém dizer. Mas no meio do público nem se dá pelo frio. Samuel Úria teve casa cheia para o receber da melhor maneira, cantando praticamente todas as músicas do cantautor. Com a sua ironia e sentido de humor, Samuel Úria brincou com quem se metia com ele, gritando do público, pedindo músicas ou provocando o cantor. "Lenço enxuto", "Não arrastes o meu caixão" ou "Barbarella e barba rala" foram três dos muitos temas que se fizeram ouvir.

No palco Eira a poeira levantou-se com a Capicua. Até ao momento, nunca o recinto esteve tão cheio como agora. Circulava-se pela aldeia a passo de caracol, tal era a quantidade de festivaleiros. Nesta altura reflectia-se: "Cem Soldos está a ficar demasiado pequeno para acolher tanta gente, neste que é um festival cada vez mais consagrado".  Capicua brinca com as palavras, construindo rimas que nos deixam boquiabertos. No concerto, onde apresentou o disco "Sereia Louca", fez-se acompanhar pelo DJ D-ONE e pela MC M7 e até com Cem Soldos parafraseou: "Em Cem Soldos, a gente diverte-se imenso", numa adaptação à música "Yayorken". Já ia alta a noite quando os Gaiteiros de Lisboa subiram ao palco Lopes Graça para um concerto memorável para ambos os lados: músicos e público. Estava a chegar ao fim mais uma noite. A aldeia virou global e viral.

 Continuação da reportagem aqui.